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As memórias de claudete

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Claudete Piovesan Stival, 58 anos, agricultora, casada com Valdir Jorge Stival (in memoriam), é a nossa segunda personagem. 

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Claudete Piovesan Stival, 58 anos, agricultora de profissão, casada com Valdir Jorge Stival (in menoriam), mãe de Diogo Stival sofreu vendo o amor da sua vida morrer em consequência de um câncer de ossos. Valdir seu marido faleceu há 6 anos em consequência da doença.

O câncer se manifestou em 2011, mas já fazia 5 anos que Valdir sentia muita dor muscular, porém ele nunca ia no médico. Naquele ano a dor começou a aumentar e então ele aceitou realizar uma consulta, entretanto os médicos não encontravam nada, levou 3 meses pra descobrirem entre idas e vindas. “Em março eu fiz uma cirurgia de retirada de ovários, o Valdir me acompanhou e dormiu no chão do hospital, quando chegamos no outro dia em casa ele acordou com uma dor muito forte e foi aí que começamos a nos preocupar”.

Foi iniciado uma série de exames para descobrir o que era, pois a dor não acalmava. Em um raio-X que foi realizado apareceu uma costela quebrada e por isso ele usou por 21 dias uma cinta pra imobilizar a coluna e isso prejudicou muito o câncer. Não resolveu em nada,  a dor não acalmava e eles decidiram ir a Passo Fundo realizar uma ressonância, “quando ele saiu da ressonância o doutor pediu pra ele o contato do médico que já travava ele para marcar urgente uma consulta com um oncologista, ele nos disse que o caso era bem complicado, o Valdir tinha um tumor que estava pressionando a medula”.

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Eles aguardaram no hospital até a hora da próxima consulta, quando entraram no consultório do especialista e mostraram o exame o doutor queria levar o Valdir direto pra cirurgia, pela complexidade do caso, “eu vi no semblante dele que o caso não era simples”. A ideia era fazer uma primeira cirurgia pra tirar o que estava pressionando a medula e depois eles avaliariam qual seria o próximo passo. A cirurgia era 40 mil reais, e como a família não tinha condições de pagar o doutor aguardou até o outro dia e fez a entrada deles pela emergência, assim o Sistema Único de Saúde (SUS) cobria a operação.

Valdir passou a noite com muita dor e Claudete muito preocupada, eles quase não dormiram, antes da cirurgia chegou lá pra ficar com eles um irmão dele, Ari Paulo Stival. 

Claudete revive os momentos de dor do tratamento do seu esposo Valdir olhando as fotos que ela guarda com todo carinho

“A cirurgia foi super-rápida, o doutor chegou e disse: Claudete, fizemos a cirurgia do teu marido, mas infelizmente é câncer, ele está todo tomado pelo tumor eu só abri tirei um pouco pra biópsia e fechei, pois não tinha o que fazer”, afirmou a personagem.

Não tinham ainda a certeza se era maligno ou benigno, mas Claudete nos disse que tanto ela quanto o doutor já imaginavam que seria um câncer bem agressivo. “O mundo cai, eu fui a loucura não queria acreditar, eu não estava preparada pra entrar lá dentro e tinha que ser forte pra não contar pra ele antes do resultado”. Valdir pelo que relata sua esposa saiu da cirurgia feliz acreditando que tudo iria ficar bem, pois ele tinha muita fé.

A espera pelo resultado foi angustiante para toda a família, ele sem saber o que estava acontecendo fazia planos para o futuro, mas a família sabendo de tudo não conseguia relaxar. Após 10 dias o resultado ainda não tinha vindo, então o doutor resolveu operar de novo sem saber o que era, o doutor teve que tirar 3 vertebras e colocar 9 pinos pra conseguir remover grande parte do câncer, pois elas estavam bem frágeis. Quando Valdir chegou no quarto, novamente aquela onda de esperança “ele me falava, agora eu estou bem, fiz a cirurgia e nós vamos pra casa, e eu tinha que dizer que sim, mesmo sabendo que não era assim”.

Após algum tempo quando todos eles estavam reunidos no quarto o doutor chegou e disse: “Valdir, chegou o resultado do teu exame, você tem câncer, mas fica feliz teu câncer é só nos ossos”. De acordo com Dona Claudete, quando o médico disse isso as lágrimas correram dos olhos de Valdir, e então chegou as mudanças e começaram a luta contra essa doença, exames, quimioterapia e radioterapia, pois quando uma pessoa tem câncer, a vida nunca mais é a mesma.

Claudete afirma que não foi fácil ser firme, fizeram muitos exames no corpo dele, e não foi encontrado tumor em mais nenhuma parte do corpo. Começaram o tratamento com quimioterapia após 23 dias e ficaram mais 46 dias para dar continuidade a esse tratamento dentro do hospital São Vicente de Paula em Passo Fundo, quando voltaram pra casa e começaram a realizar o tratamento em Erechim eles iam para lá a cada 15 dias.

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Após 1 ano de tratamento surgiu a oportunidade de fazer o autotransplante de medula, a família aceitou e no dia 12 de junho de 2012 foi realizado o procedimento. Tiraram todas as plaquetas dele e fizeram a última quimioterapia. No outro dia a imunidade dele estava muito baixa e então começaram a colocar o sangue com as plaquetas novas. Valdir estava muito fraco e “o procedimento foi muito demorado e muito difícil, e tudo isso era muito doloroso pra ele e pra mim”, afirmou Claudete. Levou cinco dias para ele começar a reagir ao transplante, e aos poucos ele melhorou e a recuperação aconteceu, então após 24 dias eles voltaram para casa.

"Eu não podia nem tocar nele por causa de sua imunidade, sofri muito nesse período vendo o meu grande amor perder a vida sem poder fazer nada" Claudete Stival

“Os primeiros dias foram muito complicados, ele tinha que usar máscara, não podia ter muito contato com as pessoas, principalmente criança, a alimentação era bem difícil. Eu chorava muito, mas ele sempre me consolava”. O tratamento deu certo, mas uns 40 dias após o procedimento as dores nas costas voltaram, o cateter que ele tinha começou a inflamar e assim ele ficou por mais 15 dias antes de aceitar voltar para o médico pra ver o motivo da dor. o doutor falou que estava tudo bem e que eles podiam voltar pra casa. Mas a dor não acalmou, 3 dias depois voltaram pra Passo Fundo, o Valdir com muita dor foi internado para uma outra cirurgia na coluna.

Conseguiram de novo tudo pelo SUS, ele ficou 10 dias esperando quarto e com a ajuda de uma freira do hospital ele conseguiu internar, então fez uma nova ressonância e uns 3 dias depois ele foi pra cirurgia. Naquele dia pra Claudete não ficar sozinha foi pra lá sua irmã Cleusa, então o Valdir entrou na cirurgia, o doutor demorou apenas 10 minutos e saiu para chamar as duas. “Como eu já estava lá, há alguns dias, eu sabia que quando a cirurgia era tão rápida e ele chamava os familiares para uma sala separada eu sabia que era algo ruim”, então ele deu a notícia, “Claudete, abri o Valdir, mas infelizmente só fechei”.

ONCOLOGISTAFábio Franke
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Pontos positivos e pontos negativos do autotransplante de medula óssea

Valdir sempre foi muito forte e nunca desanimou em todos os meses de tratamento. 

Claudete após a morte da pessoa que ela ama foi se acabando psicologicamente, teve depressão, pois de uma hora pra outra se viu sozinha no mundo, é claro que ela tinha seu filho, mas ele tinha a vida dele, casou e se mudou, ela se viu em sua casa com as suas lembranças, em todos os lugares onde tinha uma história com o Valdir. “A gente é forte, mas as vezes não tem como seguir sozinho, nos primeiros meses a tristeza é gigante, mas temos que aprender a viver com a presença espiritual dele e não a física”, após algum tempo ela começou tratamento de depressão com psicólogo e psiquiatra e aos poucos ela foi aprendendo a viver com essa doença.

Hoje ela vive feliz, com muitas saudades do amor da sua vida, mas consegue assimilar a sua perda e seguir em frente, ela começou a trabalhar e isso ajudou a distrair a cabeça dela. “Até hoje eu procuro lembrar da doença como uma fase, porque ela é muito ruim e desestrutura a vida das pessoas, mas tudo passa assim como a vida do Valdir passou”.

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